O Menino Grande
Também
eu, também eu,
joguei
às escondidas, fiz baloiços,
tive
bolas, berlindes, papagaios,
automóveis
de corda, cavalinhos...
Depois
cresci,
tornei-me
do tamanho que hoje tenho;
os
brinquedos perdi-os, os meus bibes
deixaram
de servir-me.
Mas
nem tudo se foi:
ficou-me,
dos
tempos de menino
esta
alegria ingénua
perante
as coisas novas
e
esta vontade de brincar.
Vida!
não
me venhas roubar o meu tesoiro:
não
te importes que eu ria,
que
eu salte como dantes.
E
se riscar os muros
ou
quebrar algum vidro
ralha,
ralha comigo, mas de manso...
(Eu
tinha um bibe azul...
Tinha
berlindes,
tinha
bolas, cavalos, papagaios...
A
minha Mãe ralhava assim como quem beija...
E
quantas vezes eu, só pra ouvi-la ralhar,
parti
os vidros da janela
e
desenhei bonecos na parede...)
Vida!,
ralha também,
ralha,
se eu te fizer maldades, mas de manso,
como
se fosse ainda a minha Mãe...
Sebastião da Gama (1924-1952)
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