A 15 de fevereiro de 2015 morreu Luísa Dacosta.
Professora do ensino oficial, Luísa Dacosta começou a sua vida literária em 1955 com a publicação de um livro de contos intitulado Província. A partir de 1972 iniciou a escrita de livros para crianças e dirigiu coleções nesta área editorial. Na sua atividade de tradutora, traduziu obras de Nathalie Sarraute e Simone de Beauvoir. Colaborou em numerosos periódicos de que podem destacar-se Colóquio/Letras, O Comércio do Porto, Jornal de Notícias, Raiz e Utopia, Seara Nova.
Entre as influências que a sua produção literária manifesta, os críticos têm citado Irene Lisboa, cuja presença seria visível logo no seu primeiro trabalho. Entre a temática que mais a tem interessado situam-se os relatos de um quotidiano vulgar e a situação da mulher. Os seus livros situam-se num registo em que um sabor autobiográfico se mistura à crónica e ao conto.
Foi-se embora em vésperas de fazer 88 anos. “O tempo é muito importante. Sem tempo, não vivemos. É uma dimensão muito especial”, disse durante o 2.º Encontro de Literatura Infantil da Sociedade Portuguesa de Autores, em Abril de 2011, sob o título “Palavras para Que vos Quero”. E concluiu: “Aproveitei-o bem.”
A prosa poética e o amor pelas histórias vieram da mãe: “Era professora primária e contava muito bem histórias de raiz popular. Mas também histórias de fadas. Eu adorava.”
Aos nove anos, ficou marcada, na escola, pelo conto A Menina dos Fósforos, de Hans Christian Andersen. “Foi um choque. É a história de uma morte. Uma criança que morre. E era um livro para crianças. Não era fantasia, era verdade. Esse livro influenciou-me muito”, contou.
Luísa Dacosta nasceu em Vila Real e publicou o primeiro livro em 1955, um conjunto de contos sob o título Província, para adultos. Mas a sua vida profissional foi sobretudo preenchida com a atividade docente, de que não abdicou mesmo quando que lhe foi vaticinada 100% de incapacidade por doença oncológica.
O seu traço principal, segundo alguns estudiosos sobre a autora, “era o de achar que o texto literário era indispensável na expressão das emoções”. Por isso valorizava “o poder da linguagem literária na transformação do coração do leitor, quando lhe falava nas alegrias e dores humanas”.
Algumas obras da autora
De Mãos Dadas, Estrada Fora
A Rapariga e o Sonho
História com Recadinho
Houve um Tempo, Longe
Na Água do Tempo
O Elefante Cor-de-Rosa
Distinguiu-se igualmente na poesia, da qual deixamos um pequeno registo:
PERDAS
Faltam sombras
à minha porta.
Quando a noite desce,
o Joaquim já não vem
espreitar a maré.
Um ataque cardíaco deixou-o
com o lado direito
esquecido e morto.
Ergue-se a manhã
e a Natália, que o não larga da mão,
não vem beber a malga do café à beirada.
Um dia, também, não estarei mais
para registar as perdas.